Um postal de Coimbra (c. 1904)

Em 2015 este postal, foi alvo de uma conversa entre mim e o António Manuel Nunes.

http://guitarradecoimbra4.blogspot.pt/2015/06/relato-jornalistico-do-cirio-e.html

«Post scriptum, depois de uma demorada conversa com Adamo Caetano: notam-se pormenores bizarros na indumentária masculina, que foi pintada à mão, nomeadamente três batinas com abas dobradas; a vista da alta/Universidade pode ser um cenário fotomontado em estúdio, sendo duvidoso que a partir dos jardins da Lapa se colhesse este ângulo da alta; »A.M.Nunes

Eu achei tal foto impossível a partir da Lapa dos Esteios. Finalmente ontem fui lá! (6 de Agosto de 2017, 2 anos depois! mais vale tarde do que nunca!)  Esta é a vista da torre a partir da Lapa (aquele cisco no centro, é a torre)…

Voltei ao postal e pelas sombras achei que a fotografia deveria de ter sido feita entre as 11 e as 14 horas, na margem direita do rio.

Assumindo que não se tratava de fotomontagem, olhei para as arestas(s) da Torre e para as duas possíveis zonas da cidade.

Olhei para os muros e apostei no Botânico. Vi o ângulo do fotógrafo com o muro e o alinhamento com a torre, e sem sair de casa (usando as ferrramentas da Google), eu e a Ana Amélia concluímos onde teria sido tirada a foto! Restava confirmar no terreno!

Hoje (7 de Agosto de 2017), eu e a Ana, fomos ao Botânico! Aqui está:

Local: acima e externamente ao corpo central do Jardim Botânico, lado sul, junto ao portão com a escadaria.

O vaso resulta de obras de restauro, feitas provavelmente muitas décadas depois da fotografia do postal.

Dali, ainda hoje se consegue ver um bocadinho da torre através das arvores! 🙂 (aquele é o edifício dos Departamentos de Física e Química).

Aproveitando o Inverno e o facto destas árvores serem de espécies de folha caduca, fotografámos novamente o local e comparámos as fotografias.

Na imagem do postal, a torre e as casas da velha Alta desaparecida estão muito mais próximas. Isto leva-nos a crer que a fotografia resulta de fotomontagem.

Se ao fotografar eu procurasse alinhar o vaso com a torre, o ângulo com o muro seria muito menor … As dimensões da torre no postal diferem em mais do dobro em relação a esta fotografia feita no dia 3 de Março de 2018.

José Nascimento encontrou a prova no dia 4 de Março de 2018, na exposição de postais da CMC. Eis duas versões do postal para comparação:

É possível que em ambos os casos a imagem tenha sido alterada pelo fotógrafo. De qualquer modo fica claro que os estudantes são os mesmos (ver a outra fotografia)  e portanto as fotografias foram tiradas no mesmo dia, no jardim botânico de Coimbra.

Na segunda versão do postal, para alem da torre e do casario adicionado ao fundo, a indumentária foi grosseiramente alterada e o título passou de «Costumes académicos – Serenata» (ou «Coimbra – Uma serenata d’estudantes») para «Uma guitarrada».

Fotografia de Belisário Pimenta do início do sec XX. Vê-se o jardim botânico, a estufa, a torre da UC e o observatório.

Quanto aos rapazes e instrumentos:

Este postal, utilizado, tem data de 3/3/1904, portanto a fotografia é anterior. Finalmente foi possível reconhecer alguns dos elementos da fotografia, sendo altamente provável que todos fossem elementos da TAUC. Nas legendas das imagens coloquei links para as fotografias da TAUC.

Guitarra à esquerda, parece João Alves Brandão de Carvalho, identificado com o n.º 17 na fotografia da TAUC 1899-1900.

Viola à esquerda, parece o n.º 25 na fotografia da TAUC de 1901-1902.

Parece o viola n.º 10 na foto da TAUC de 1901-1902.

Também na foto da TAUC de 1901-1902.

Adamo Caetano,

Assunto abordado inicialmente em 2015.
Apontamento enviado por email para António Manuel Nunes no dia 7 de Agosto de 2017.
Comparações fotográficas dos estudantes feitas no dia 27 de Novembro de 2020.