«Fado – Variações – tom menor» por João de Deus Ramos (filho)

O acompanhamento escrito na clave de fá resulta fácil e coerente como acompanhamento à viola (documentar o uso destas posições em métodos J.V.).

Excerto da escrita (variação 4) e exemplificação do que foi feito na transcrição da peça.

A opção pela tonalidade de dó menor e o conhecimento do uso, em Coimbra, da afinação natural da guitarra (Dó, Mi, Sol, Do, Mi, Sol = C3, E3, G3, C4, E4, G4, do grave para o agudo, da 6ª para a 1.ª corda) levou-nos imediatamente a colocar a hipótese de este manuscrito se tratar de escrita para guitarra em afinação natural menor, dita de João de Deus, que neste caso seria, C3 Eb3 G3 C4 Eb4 G4 (da 6ª para a 1.ª corda). A escrita na clave de sol, a ser para guitarra, estaria – pelo menos na maior parte do tempo – transposta uma oitava acima. Esta não seria uma opção inusitada, e sendo uma opção consciente/informada, teria, como vantagens, permitir uma escrita eventualmente mais condensada e evitar a sobreposição de escrita entre os dois pentagramas. Se assim não fosse, para ser possível tocar na tessitura real a guitarra teria de ter mais de 20 trastos e sabemos que a maioria das guitarras em uso tinham apenas 17. Esta abordagem de escrita, sendo consciente, é ardilosa. Como se sabe a escrita para a viola é tradicionalmente feita em clave de sol transposta uma oitava acima (desde finais do séc. XVIII) mas como, neste contexto musical, o papel da viola de acompanhamento fica pelos graves, utilizando a clave de fá as notas ficam escritas na altura certa e não há sobreposição com a escrita para guitarra na clave de sol (que estará transposta uma oitava acima).

Em Coimbra, em 1890, era utilizada a afinação natural (ref. fontes): C3 E3 G3 C4 E4 G4 (dó maior em cordas soltas). Para João de Deus Ramos Júnior alterar a afinação da guitarra para dó menor bastaria simplesmente baixar meio tom às 5.ª e 2.ªs cordas da guitarra, obtendo assim a dita afinação João Deus ou natural menor, neste caso, C3 Eb3 G3 C4 Eb4 G4 (que em Lisboa se ouviria um ou dois tons acima: D3, F3, A3, D4, F4, A4 / E3 G3 B3 E4 G4 B4).

Para melhor referência.

A escrita integral, assim traduzida, resulta numa partitura digital onde optámos por escrever o papel da guitarra em clave de sol, à altura real, e o papel da viola em clave de sol uma oitava acima (o standard).

Optámos pela segunda apresentação da escrita.

O observador mais atento notará que na Valsa de Beja a viola toca um ré 2 (D2). Isto em Coimbra, em 1890, seria facilmente resolvido pelos violões de 7 cordas com os quais João de Deus terá convivido na TAUC e que afinaria a 7.ª corda em Si2 (B2).

não prova a existência em Coimbra da afinação João de Deus, utilizada e divulgada pelo filho, helas … 🙂