Tuna Académica de Coimbra em Lisboa, 23 de Dezembro de 1901

No dia 23 de Dezembro de 1901 a Tuna Académica de Coimbra actuou no Theatro D. Amélia, em Lisboa. Esse acontecimento teve grande cobertura mediática e foi publicada, no Diário de Notícias,[1] uma narrativa histórica sobre a TAUC que tem sido fonte de confusão no século XXI…

No suplemento humorístico de «O Século» saíram as caricaturas d’«Os célebres» daquela semana — malta da TAUC. Quem são eles?

Com a batuta, Francisco Lopes Lima de Macedo — regente da Tuna.
De óculos, António Aurélio da Costa Ferreira — presidente da Tuna (AG).
Francisco Martins Grillo — presidente da Direcção da Tuna.

Ver o programa do espectáculo no apontamento «As fotografias de grupo… e as ausências!»

Suplemento humorístico de O século, ano 5, n.º 217, 26 de Dezembro de 1901, pág. 8. Desenho de Jorge Colaço (colecção do Dr. Alexandre Ramires).

A. Caetano, 4 de Maio de 2024

[1] “Diário de Notícias”, n.º 12.951, 38.º ano, sábado, 21 de Dezembro de 1901
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Arquivo da TAUC em missões

Esta semana, a malta do Arquivo da TAUC cumpriu mais duas missões:

– a missão João de Deus (à espera, para ser realizada, desde 2016): uma visita ao Museu João de Deus para digitalizar, em alta resolução, uma fotografia da TAUC captada no dia 8 de Março de 1895, em Lisboa, que é a única fotografia, conhecida, da TAUC a tocar na rua…

30 de Abril de 2024, Museu João de Deus, Lisboa.

e

– a missão Alexandre Ramires: uma visita à sua enorme e riquíssima colecção de documentos, muitos deles, relacionados com a Academia de Coimbra dos séculos XIX e XX.
Para além do enriquecedor convívio cultural — das privilegiadas lições, sobre vários assuntos, acompanhadas da visualização de documentos únicos –, trazemos na bagagem, mental e digital, muitas mais pistas documentais para fazer a história “ilustrada” da TAUC. Nos próximos tempos vamos seguramente divulgar alguns apontamentos, com estes desenvolvimentos, e dar uma espreitadela a imagens lindíssimas, como esta:

Arthur Pinto da Rocha, primeiro presidente da Tuna Académica de Coimbra, aqui retratado enquanto quintanista fitado de Direito, Maio de 1890 (carte de visite da colecção do Dr. Alexandre Ramires).

A. Caetano, 4 de Maio de 2024

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Serenatas coimbrãs nos anos 80 do século XIX

Num artigo publicado, em 1908, na Illustração Portuguesa,[1] intitulado «Excursão da Sociedade de Bellas Artes a Coimbra», Bernardo de Almeida Lucas (estudante da Faculdade de Direito da UC entre 1883 e 1888) recorda:

«Eis-nos de novo a céu descoberto. Descemos a escadaria da nova catedral. Aqui, n’uma noite de luar, há talvez vinte annos, estendiam-se as nossas capas negras — meus companheiros de então! — e o Jayme, o bohemio, o Jayme da guitarra, fazia chorar as cordas da sua banza, cheia de segredos e de amores.»

Esta memória coloca Jayme d’Abreu a tocar guitarra na escadaria da Sé Nova de Coimbra numa noite de luar, em 1888 (Jayme d’Abreu tocou guitarra, estudou e viveu em Coimbra entre 1879 e 1889 — para saber mais sobre >> Jayme Augusto Ferreira de Abreu).

[Ver outras imagens: «A serenata Coimbrã em imagens»]

Jayme Augusto Ferreira de Abreu, Coimbra, 1879, com 19 anos, estudante do Liceu. Fotografia da colecção do Dr. Alexandre Ramires, a quem muito agradecemos (Fotógrafo Adriano da Silva e Sousa – Photographia Conimbricense).

Os relatos da época descrevem grupos de serenata numerosos — «as guitarradas» — que, em noites de luar, percorriam as ruas da cidade dirigindo-se para alguns locais de eleição, seguidos por largas dezenas de estudantes[2] que tinham como, único, propósito ouvir a serenata.

Grupo de estudantes da Universidade de Coimbra em «guitarrada» (data aproximada 1880). Digitalização feita a partir da fotografia que pertenceu a Jayme d’Abreu (ver Missão Jayme d’Abreu – Abril de 2024). Dimensões aproximadas: 12 x 15 cm.

As ruas eram o palco principal

Os grupos de serenata deambulavam pelas ruas de Coimbra, mas houve locais de peregrinação serenil, quase obrigatórios, como o Penedo da Saudade. Também a escadaria da Sé Nova — um local central, na Alta — serviu, desde longa data, como “anfiteatro fora de horas” para os estudantes cantarem, tocarem e declamarem.[3]

Quando o caudal do Mondego o permitia, os passeios de barca até à Lapa dos Esteios e até ao Choupal,[4] transformavam-se, muitas vezes, em atraentes e encantadoras serenatas fluviais, e passaram a constar dos programas das festas da Rainha Santa Isabel.

À semelhança do que aconteceu com a serenata bandolinística escrita por Mozart e incluída da ópera D. Giovani de 1787 (ver Don Juan), também os estudantes de Coimbra transplantaram as serenatas de rua, com guitarras e violões, para os palcos das récitas dos quintanistas, durante os anos 80 e 90 do século XIX (ver «As récitas académicas e as suas orquestras, em Coimbra, nos finais do século XIX» e a serenata incluída na récita «A revolta dos caloiros» de 1888).

As serenatas, que nasceram no recato amoroso sob uma janela ou varanda, com um cantor sussurando versos de amor e dedilhando, delicadamente, umas cordas (de alaúde, viola, cítara, …), “evoluíram” para serenatas de cortesia e de fruição artística,[5] com grupos mais numerosos de tocadores e cantores, e com grandes públicos, em locais abertos, capazes de acomodar muitos ouvintes, e também nos teatros. As grandes escadarias de alguns monumentos tornaram-se, espontâneamente, palco destas serenatas que, provavelmente por essa razão, ganharam o adjectivo e a designação de monumentais.[6]

A. Caetano, 29 de Abril de 2024

[1] Illustração Portuguesa (Edição semanal do jornal O Século), n.º 122. Lisboa, 22 de Junho de 1908, páginas 20 a 24,«Excursão da Sociedade de Bellas Artes a Coimbra».
[2] Em ocasiões festivas, como por ex. em 1880 e 1881, durante as comemorações do tri-centenário da morte de Camões, estas serenatas tiveram um público estudantil, em cortejo, que superava as duas centenas. As serenatas fluviais (académicas e futricas), em ocasiões de festa, reuniram alguns milhares de pessoas nas margens para ouvir instrumentistas e cantores, cujo palco eram as barcas serranas, deslizando sobre as águas calmas no Mondego.
[3] Ver Eça de Queirós, Notas Contemporâneas (1896). Eça de Queiroz frequentou a FDUC entre 1861 e 1866.
[4] Egas Moniz, aluno de medicina nos anos [18]90, relata isso com precisão. Ver «Centenário da Sebenta – o Almirante Rato»: «O Rato era um modesto barqueiro do rio Mondego, sempre pronto a atender a rapaziada quando lhe batia à porta com guitarras e violas, para as serenatas do Choupal
[5] Serenatas poeticamente dedicadas ao luar e à cidade.
[6] Outra hipótese está relacionada com a grandiosidade festiva que começou a envolver estas ocasiões de espectáculo público, incluído, com destaque inaugural, nos programas das festas académicas, como a queima das fitas (> anos 40). Mais recentemente, algumas organizações académicas portuguesas inverteram a designação «serenata monumental» para «monumental serenata».

 

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Para uma história da regência da TAUC, desde 1888

Quando a Tuna Académica de Coimbra nasceu, em 1888, e o professor da cadeira de música anexa à capela da UC (Faculdade de Theologia), o Dr. António Simões de Carvalho Barbas (1849 – 1916), assumiu a sua regência, essa jovem associação musical-dramática de estudantes da universidade não lhe pagaria uma remuneração. Intui-se isso a partir do seguinte: José Augusto Ferreira da Silva, um conhecido professor de música na cidade de Coimbra, escreveu um artigo, violentíssimo, intitulado «A aula de música da Universidade», publicado no jornal «A OFFICINA», Semanário da classe operária, Coimbra, no dia 3 de Junho de 1889, no qual afirma: «Mas, dirão os patronos d’este professor, que basta a direcção da Tuna para merecer o que ganha.».[1]

Manuel Raposo Marques (Ribeira Grande, 2 de Novembro de 1902 – Santa Maria, 4 de Setembro de 1966), aluno da Universidade de Coimbra (Faculdade de Letras e Direito) desde 1923 e tauquiano, tocador de bandola, começou a reger a Tuna e o Orfeon, pontualmente. «A partir de 1926, é regente substituto do Orfeon, por impossibilidade quase permanente de saúde do regente titular» (o padre Dr Elias de Aguiar) e a partir de 1932 também regeu a TAUC, provavelmente sem qualquer renumeração.  Em Novembro de 1936 — já depois da morte de Elias Luís de Aguiar (Vila do Conde, 2 de Fevereiro de 1880 – Coimbra, 13 de Março de 1936) — foi publicado o decreto-lei 27:277 que “resolveu” o assunto do financiamento do director artístico de dois organismos académicos de Coimbra que tinham conquistado visibilidade e prestígio, contribuindo para a imagem da Universidade de Coimbra e da sua Academia.

O ganha-pão do maestro Raposo Marques ficou assegurado até à sua morte, súbita, em 1966, mas embora ele continuasse, oficialmente, a receber como maestro dos dois grupos, a partir de 1953 (e até 1961) o maestro da TAUC foi o doutor eng.º Francisco Alves Ferreira, professor da FCTUC, que quis reger graciosamente a TAUC, durante esses anos, como resultado de um conhecido acordo estabelecido entre ele, a direcção da TAUC e o maestro Raposo Marques, para que o amigo Raposo e a TAUC não saíssem prejudicados. A dificuldade que conduziu a esta situação resultava do facto de as digressões dos dois grupos (Tuna e Orfeon) serem agendadas para os mesmos períodos (férias da Páscoa) e o maestro Raposão, não se podendo partir em dois, preferia o Orfeon, que era a menina dos seus olhos. O Eng.º Ferreira Alves, de forma generosa, resolveu esta situação com grande proveito para a TAUC, pois a sua dedicada regência foi um período glorioso de elevação da fasquia artística, mas no futuro ressurgiria, para as direcções da TAUC, a dificuldade de assegurar a remuneração de um maestro.

Diário de Governo, 24 de Novembro de 1936, I série, pag. 1509.

Diário de Governo, 24 de Novembro de 1936, I série, pag. 1510.

«O Diário de Coimbra» da AAC, 1927 (não confundir com o alcunhado “Calinas”, isto é, com o «Diário de Coimbra» fundado em 1930 por Adriano Lucas). Nas fotografias, dois tauquianos que brilharam na TAUC, nos anos 20, e foram em 1925 ao Brasil: Castanheira Lobo, director do Grupo Dramático da TAUC e Raposo Marques, o tocador de bandola que foi maestro da TAUC durante 21 anos (1932 a 1953).

Pesquisa e digitalização destes documentos – António Nascimento, 2014.

[Para saber mais sobre os Maestros da TAUC.]

A. Caetano, 26 de Abril de 2024

[1] A OFFICINA, Semanario da classe operaria, Coimbra, 3 de Junho de 1889, VII ANNO, n.º 333
Artes e Officios
A aula de música da Universidade
Estamos no fim do anno lectivo de 1888 a 1889, sendo nesta occasião que o professorado scientifico da Universidade vae mostrar o resultado dos seus trabalhos d’ensino perante o paiz que lhes paga. Ha, porém, o professor de musica da mesma Universidade, que tambem vae justificar ao paiz a sua inutilidade e falta de cuidado em honra da cadeira de que explora 300 mil réis annuaes, quantia que o mesmo não vale por qualquer título.
Mas, dirão os patronos d’este professor, que basta a direcção da Tuna para merecer o que ganha. Porém, como a nação não tem por em quanto a obrigação legal de sustentar Tunas, embora sustente muito Tunante, é preciso que alguém ponha cobro á patifaria, secularisando a aula fóra da Universidade e da capa e batina a onde possa ser mais proveitosa.
E de mais: a aula tambem foi criada para os filhos dos habitantes d’esta cidade, e que teem o mesmo direito que qualquer académico. E se alli não vão, é porque não estão dispostos a soffrer o desprezo de uma classe que se considera privilegiada pelo seu foro, o que não acontece se fôr secularisada e fiscalisada pela auctoridade civil.
Receber 300 mil réis annualmente com a certeza de não ter alumnos, é uma chuchadeira que só pode servir para quem explora gananciosamente sem mais respeito pelos que pagam. E os alumnos que particularmente ensina por paga, deve de ensinal-os na aula publica, gratuitamente; pois é para isso que a cadeira foi criada.
Se eu fosse professor de tal cadeira, não tinha cynismo para chegar ao fim de cada anno sem mostrar que tinha merecido o ordenado, porque chamaria discípulos á aula, e não os leccionava em casa, particularmente para lhes levar dinheiro. E fallo assim, por que já tenho leccionado muitos alumnos gratuimente sem ser professor official.
Mas, cada homem tem o seu feitio moral, e cada qual dá o que tem.
A imprensa local, que talvez não tenha notado a existencia d’este logro á nação, faz um optimo serviço á sociedade, se pedir a secularisação da aula de musica da Universidade para fóra d’aquelle estabelecimento, afim de que possa aproveitar aos filhos do povo gratuitamente. É um grande beneficio de justiça que faz pela sua terra.
Coimbra, 28 de maio de 1889.
José Augusto Ferreira da Silva
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25 de Abril de 1974 – 50 anos

[Sim, eu nasci no dia 25 de Abril de 1972, em Paris, portanto, 52 anos, mas…]

hoje recordo dois tauquianos, ilustres, cujos nomes estão ligados às canções escolhidas para passar na rádio na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, como 1.ª e 2.ª senhas, como sinais para os militares revoltosos darem início à Revolução de Abril.

José Niza, que alguns poucos, aqui, ainda conheceram, como viola na Tuna e guitarra nos fados (no final da década de 50), foi o autor da letra da canção «E depois do adeus» (canção vencedora do festival da canção de 1974)

e

José Afonso, seu contemporâneo na Tuna, como cantor de fados, foi o autor, como todos sabem, de «Grândola, Vila Morena» (gravada em 1971).

25 de Abril de 1974… a conquista da Liberdade…

Quem cerceia a liberdadade ao homem é… o outro homem.

O “outro” será o tirano ou então (cuidado!) és tu! 🙂

Banhos de Abril para a TAUC, sempre!

A. Caetano, 25 de Abril de 2024

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Antero Alte da Veiga – onde estarão as suas gravações?

Anthero Dias d’Alte da Veiga (Cerdeira, Arganil, 1 de Março de 1866 – Mogofores, Anadia, 16 de Dezembro de 1960)

Livros biográficos publicados:

«Anthero da Veiga – Republicano – Guitarrista – Diplomata» por A. C. Quaresma Ventura, Jorge Cravo, Luiz Alte da Veiga, Manuel Alte da Veiga. Edição C. M. Coimbra, 2010.

“Anthero da Veiga – Arganilense, Republicano, Guitarrista, Diplomata” de Luiz Alte da Veiga e Pedro Jorge. 2017.

No Arquivo Sonoro Digital do Museu do Fado estão disponíveis, para audição, 4 temas gravados por Anthero e seu filho Eugénio (na guitarra de bordões) em 1929:
https://arquivosonoro.museudofado.pt/repertorios?search=antero+da+veiga

1 – Fado Melódico – Editora: His Master’s Voice (HMV) EQ267; [30-3100]
2 – Variações do Fado em Ré menor – Editora: HMV EQ267; [30-3101]
3 – Cantos Regionais Portugueses, Miscelânea n.º 2 – Editora: HMV EQ266; [30-3099]
4 – Bailes Regionais Portugueses – Editora: HMV EQ266; [30-3100]

mas onde estarão as gravações feitas em Liverpool?!? 12 temas! (além de outros? 12 temas gravados para a His Master’s Voice, em Espanha, em 1929)

No programa do concerto realizado no Teatro Rosália Castro, na Corunha, no dia 31 de Maio de 1929,  por Anthero da Veiga e seu filho Eugénio, constam 15 números:

  1. Variações de fado em ré menor (José Júlio e Anthero da Veiga)
  2. Bailados do Minho (Anthero da Veiga)
  3. Miscelânea de cantos de Águeda (velhas canções)
  4. Chula do Douro
  5. Rapsódia em lá maior (Anthero da Veiga)
  6. Canção vespertina campestre religiosa (sec. XVI; Torro do Tombo)
  7. Canção das cotovias ([Francisco] Menano e Anthero da Veiga)
  8. Fado melódico (Anthero da Veiga)
  9. Fados dos milagres (Anthero da Veiga)
  10. Rapsódia em lá menor (Anthero da Veiga)
  11. Miscelânea n.º 2 de cantos da Beira
  12. Bailes regionais de Coimbra: Rosa Tirana; O vira; A menina diz que tem; Ora volta atrás; O malhãozinho alegre; A rosinha veio; O ladrão
  13. Erva cidreira do campo (pequena miscelânea da Beira Baixa)
  14. Fado dos teus olhos (Alves Coelho)
  15. Grande Romaria – rapsódia em ré maior (Anthero da Veiga)

(Programa imagem MAC)

No repertório, conhecido, de Anthero da Veiga é muito marcante a adaptação da música de dança e de cantos (regionais) populares portugueses para versões instrumentais na guitarra. Também designadas «variações», essas miscelâneas ou rapsódias de canções populares — que podemos ouvir nas gravações, conhecidas, de Antero da Veiga e de Artur Paredes, arranjadas para guitarra com bom gosto e de belíssimo efeito — foram uma receita adoptada, com sucesso, por outros guitarristas (ver outro exemplo: João de Deus Ramos filho).

Este aspecto das miscelâneas, rapsódias, suites, pot-pourris musicais ou medleys não foi inventado por Antero ou Artur Paredes e terá sido, naturalmente, um filão no repertório de músicos em geral e de vários tocadores, em particular, incluindo nas violas, como é o caso de José Dória que nos anos (18)60, em Coimbra, arranjou e interpretou, na viola d’arames (toeira), pot-pourris de óperas italianas (que apresentou nos salões em Lisboa. Ver revista «Amphion», de Novembro e Dezembro de 1885), além daquele que era o seu repertório próprio que, se foi registado em partitura, até à data, ainda não apareceu.

A. Caetano, 23 de Abril de 2024

Uma «rapaziada» de 1889 – palavra utilizada a par com estudantina – grupo de rapazes estudantes, não necessariamente grupo musical, mas frequentemente associado. A Comarca de Arganil, n.º 2.831, 20 de Março de 1942, pág. 2. Entrevista a Anthero Alte da Veiga.

(fotografia das guitarras)

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J. Tobozo: ¡La guitarra de once cuerdas, o la muerte!

Leiam esta historinha publicada num jornal brasileiro, em 1889.

Pacotilha. Jornal da tarde. São Luis (Brasil), 23-08-1889, p. 3.

En: Gil-Orozco Roda, Luis. El guitarrista Gil-Orozco. El artista, el hombre y su tiempo. Valencia, 2011, pp. 107-112, 123. «[…].

Práxedes Gil-Orozco and José Martinez Toboso, Rio de Janeiro, 1889 (Fonte: Facebook)

Tobozo, que já realizára vários concertos em guitarra de seis cordas, achava que, se fora possível augmentar o numero destas, tornar-se-hia muitíssimo mais agradável o instrumento. Mandou fazer uma nessas condições e ficou encantado com os effeitos que conseguio. Abandonou a guitarra de seis cordas e começou a estudar na de onze. Alguns mezes mais tarde, desejando dar um concerto e não se considerando ainda completamente seguro do novo instrumento, voltou ao primitivo. Amarga decepção! Tobozo perdera, com o estudo na guitarra de onze cordas a execução que tinha na de seis. Não pode realizar o concerto sob pena de fazer fiasco completo, elle, que estava acostumado a obter sempre enorme successo. Qualquer outro na sua situação faria em mil pedaços a guitarra de onze cordas e voltaria a estudar com affinco na de seis, sobre a qual havia mais certesa de bom exito. Tobozo tomou uma resolução heroica. Metteu-se em casa, guardou muito bem guardada a guitarra de seis cordas, mandou chamar um barbeiro, e, a despeito da sua reluctancia, dos rogos de sua família. Tobozo obrigou-o a que lhe raspasse o bigode, a barba, o cabello e as sobrancelhas! Neste bello estado fechou-se em um quarto com a guitarra de onze cordas e poz-se a estudar, a estudar com um desespero e uma constancia de que elle só seria capaz. Orosco, notando a ausencia do amigo, foi procural-o. Introduzido no quarto onde se achava Tobozo com a guitarra de onze cordas, Orosco julgou-se ludibrio d’algum espírito maligno que se comprazia em apresentar-lhe imaginação quadros pavorosos e extravagantes. Via diante de si uma forma exquisita – corpo de homem, cabeça incomprehensivel – sentada em uma cadeira a dedilhar uma guitarra monstruosa que produzia sons plangentes.

— Tobozo, meu amigo!
— Sou eu, respondeu a forma phantastica, continuando sempre a tanger as inúmeras cordas do instrumento extraordinario.
— Impossível! tu não és Tobozo, o meu amigo!
— Sou Tobozo todo inteiro, sem os cabellos, bigode, barba e sobrancelhas, explicou Tobozo, relatando ao amigo todas as peripecias da situação. Orosco não queria a princípio acreditar no que lhe referia o amigo, mas, convencido da veracidade do caso pela prova palpitante da guitarra de onze cordas e da ausência do cabelo, do bigode, da barba e das sobrancelhas de Toboso, [teceu] considerações a respeito.
— Mas que loucura, Toboso! segregares-te da sociedade, por um capricho de sucesso duvidoso é o cumulo.
— Eu hei de tocar a guitarra de onze cordas como a de seis, ou não sairei daqui!
— E a pandega, os divertimentos, os espetáculos?
— Quero saber tocar guitarra de onze cordas!
— ¿Y las mujeres, Toboso?
— ¡La guitarra de once cuerdas, o la muerte! Orosco, convencido de que não dissuadiria o amigo, teve a coragem de vir fazer-lhe companhia, mas sem raspar o bigode, a barba, nem mesmo o cabelo. Dado o tempo necessário a que Toboso pudesse puxar as guias do seu novo bigode, anediar a sua barba, pentear o seu cabelo, eram notáveis os resultados que obtivera do estudo a que se dedicara. Quando apareceu ao público, fez um sucesso inenarrável. Quantos o haviam aplaudido nos concertos de guitarra de seis cordas, ficaram maravilhados pela sua execução na de onze. E daí datou a sua reputação de guitarrista sem rival. […].»

Este artigo faz crer que Jose Toboso está na origem da viola de 11 cordas, mas será assim?

A.Caetano, 21 de Abril de 2024

Revista Illustrada, Capital Federal, 29 de Março de 1890. Ano 15, n.º 584, página 7 (Concerto dos guitarristas hespanhoes – José Toboso e  Gil Orozco – no Club Guanabarense, 24 de Março de 1890).
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Como se passam 30 anos… (1994-2024)

António Simões de Carvalho Barbas, em 1907, aquando da reunião do seu curso (theológico-jurídico de 1872-1877), escreveu, para essa ocasião comemorativa, uma peça musical orquestral intitulada «Como se passam 30 anos».

Esse curso de 1877 — ficou escrito — inaugurou as «reuniões de curso» que durante o século XX foram as grandes festas de antigos estudantes em Coimbra — ver «Reuniões de curso em Coimbra – as origens?».

Simões Barbas, enquanto estudante, foi o autor da música da récita «Extravagâncias extraordinárias ou As phantasias do Bandarra» — tragicomédia com que se despediram, da vida académica, os quintanistas desse curso, em Março de 1877 — e alguns anos depois, já professor da cadeira de música anexa à capela da UC (desde 1883), ele viria a ser o regente impulsionador da Tuna Académica de Coimbra, entre 1888 e 1898.

Em 1994, num dos cíclicos momentos de reestruturação da orquestra da TAUC (grupo que historicamente sintetiza “A Tuna”, a TAUC!), um caloiro de Antropologia foi espontaneamente guindado a maestro da TAUC…

TAUC ~Maio de 1994. O jovem André Granjo aqui está! 🙂

… e lá ficou a reger a Tuna durante 20 anos (de 25 de Abril de 1994 a 25 de Abril de 2014), lá fundou um pequeno grupo, baptizado «Rags», que cresceu para big band e, depois, de muito trabalho de bastidores (feito por uma mão cheia de gente entre 2014 e 2016[1]), veio a ocupar o lugar de maestro e director artístico da Orquestra Académica da Universidade de Coimbra, orquestra cuja alma mater é a TAUC.

 

Então como se passaram estes 30 anos, de 1994 a 2024?

Durante 30 anos muitas foram as horas dedicadas, por André Granjo, ao planeamento artístico, a ensaios, reuniões, contactos, angariação de músicos, espectáculos, gravações, registos audio e vídeo (produção e arquivo), logística, viagens, convívios, fotografias da praxe, etc, etc, colocando, além do seu tempo, os seus recursos pessoais ao serviço desta secular associação, contribuindo para a sua continuidade e engrandecimento.

Dedicações como esta — pela sua intensidade e longevidade — não têm paralelo na história da instituição (ver Maestros da TAUC). Sem este tipo de contributos e de entrega, realizações como a OAUC, não seriam possíveis.

Recordar estes 30 anos com o André é, também, recordar um período que (podemos agora avaliar em retrospectiva) foi muito feliz e produtivo para a TAUC. Talvez as digressões sejam uma vertente em défice, mas nas outras frentes, o trabalho tem sido em crescendo qualitativo e quantitativo. Poder rever mentalmente, num ambiente de descontracção, esse passado, na companhia do André Granjo, do Luís Salgado, do Leandro Alves e de outros tauquianos que muito contribuíram e continuam a contribuir para os êxitos da TAUC, que apoiam a TAUC, e que, além disso, mantêm a estima pelos companheiros e amigos, que fizeram no seio da TAUC, e sabem reconhecer o valor do trabalho desenvolvido pelo André Granjo em prol da TAUC,  é simplesmente muito bom!

Estes 30 anos de ligação de André Granjo à TAUC foram ontem simbolicamente  comemorados por um pequeno grupo de tauquianos.

Parabéns André! Obrigado! Felicidades e continua!

porque… enquanto houver força cardíaca, enquanto houver ventos e mar (ainda que nos sejam cão-trários… caravelas!), enquanto houver estrada para andar… a gente vai cão-tinuar!

A. Caetano, 19 de Abril de 2024

[1] I Encontro de Orquestras Académicas (28 de Novembro de 2015)

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Récita «Ó Fábia que foste Fábia», 1886

Um artigo publicado no Correio da Manhã de 4 de Abril e 1886, refere-se à representação da récita de quintanistas «Ó Fábia que foste Fábia», da autoria de António Cabral, ensaiada pelo estudante de Ciências que viria a ser o actor Alfredo Ferreira da Silva. [António Cabral, em 1886, “reciclou”/modificou a peça «Fábia», de Francisco Palha, inicialmente apresentada em 1850, no teatro académico e que aí foi celebrizada (representada novamente em 1852, 1873).]

Distinguiram-se nesta récita dois indivíduos que teriam um papel na história da TAUC: Francisco Lopes Lima de Macedo, que nessa data era empregado da biblioteca da UC (depois, bedel da Faculdade de Theologia e maestro da TAUC entre 1899 e 1904) foi o autor da música desta récita; e João Augusto Antunes (o Padre Boi) — que nessa data concluiu o curso de teologia, seguiu depois o curso de Direito e foi um elemento fundador da TAUC, em 1888 –, distinguiu-se como uma elegantíssima primeira bailarina nesta récita.

 

Programa de divulgação da peça de teatro «Ó Fábia que foste Fábia» no Teatro Académico – Arquivo Municipal de Ponte de Lima.

Pesquisa Jorge Resende

A. Caetano, 18 de Abril de 2024

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As récitas na origem da TAUC, 1882

Vai engrossando o conjunto de “fontes em directo” (imprensa periódica) que demonstram a “replicação do modelo de espectáculo das récitas de quintanistas” pela Tuna Académica de Coimbra de 1888.

Há uns meses, o Jorge Resende chamou a minha atenção para um artigo no jornal O Economista. Lisboa 2.º ano, n.º 391 5 de Dezembro de  1882, pag. 2, col. 6 que nos serviu, mais uma vez, para reafirmar as récitas de estudantes como sendo o modelo de espectáculo e de “orchestra” que está na origem da estudantina de Coimbra de 1888, a.k.a., Tuna Académica de Coimbra [ver «Saraus dramáticos-literários-musicais – uma receita transversal»]. Esta nossa afirmação visa, não desafiar, mas, sim, cilindrar a cantilena da imitação do modelo da estudantina Fígaro ou, mais especificamente, cilindrar os ditos “efeitos polínicos” (atchim!!!) como a origem do modelo do “mundo Tunal português” [temos ainda na algibeira a pergunta: então e o que é que está na origem do modelo instrumental da Fígaro de 1878?]

Lendo com mais atenção esse número do jornal «O economista», essa edição de 5 de Dezembro de 1882 faz eco de notícias publicadas pelo «Commercio Português», referindo uma récita no Liceu de Braga, onde estudou o nosso tauquiano Bráulio Caldas que logo depois, em 1883/1884, veio estudar Direito para a UC, e do «Correspondência de Coimbra» que se refere aos preparativos para a récita dos quintanistas de Direito da UC no ano lectivo de 1882/1883.

Transcrição: «Começaram no sabbado passado no Theatro Academico os ensaios da récita do 5.º anno. Uma festa usual em Coimbra, onde os estudantes do último anno da faculdade de direito, disendo um adeus à mocidade, protestam solemnemente uma amisade inalterável. É seu auctor o sr. Augusto dos Santos Pinto Pássaro, alumno do 5.° anno de direito, um talento robusto e o espírito mais jovial da Academia de Coimbra.»

Sabemos, por outras fontes, que o autor dessa récita de despedida do curso de Direito, intitulada «D. Quixote», foi o célebre «Pássaro».

«É pássaro mas não vôa. Pede lumes ao Novaes e graceja com tanta valentia como a que empregou a rufar no Zé Pereira do ex-governador civil.» O Sorvete“, n.º 157, Porto, 14/5/1881.

Deste modo, fica esclarecida a identidade d’o Pássaro, imortalizado em dois capítulos do «In illo tempore» de Trindade Coelho: «A festa das latas» e «A campanha do Zé Pereira» — no primeiro como autor de um programa da festa das latas (ano?) e no segundo como autor da brincadeira (uma piada que lançou no teatro)  que esteve na origem da campanha do Zé Pereira e culminou na demissão do governador civil (chamado José Pereira), que aconteceu entre Fevereiro e Março de 1881. [2]

«In illo tempore, estudantes, lentes e futricas» de Trindade Coelho. Paris, Lisboa, Aillaud & Cª, 1902. (página 9).

O Pássaro é Augusto dos Santos Pinto, aluno de Direito entre 1878 e 1883. Nasceu no dia 16 de Julho de 1862, em Carrazedo de Montenegro (Valpaços, Braga) e faleceu, com 36 anos, no dia 19 de Novembro de 1897 na freguesia de Nossa Sr.ª Maior da Vila de Chaves, Braga, quando era Delegado do Procurador Régio da comarca de Chaves (pesquisa de Jorge Resende).

E afinal o trabalho insano cão-pensa! Aqui está o Pássaro na nossa base de dados de cartes de visite (CdV), pescadas um pouco por toda a parte.

Augusto dos Santos Pinto (Pássaro)

CdV dedicada a José Joaquim Lopes Praça (via Delcampe.net Ana Gaspar).

A. Caetano, 15 de Abril de 2024

[1] «1883 — Apresentação de «D. Quixote» de que foi autor principal o célebre «Pássaro» na récita de despedida do seu curso. No intervalo recitaram poesias Silva Carvalho, Luís Osório e António Feijó.» Fonte: Catálogo da exposição Récitas de despedida Promovido pelo Museu Académico de Coimbra No salão do Teatro Avenida Coimbra Maio 1956. A. J. Soares.
[2] Trindade Coelho narra, com grande detalhe, esta história e refere ainda a sociedade secreta, o «grupo dos 13», revelando a identidade dos 13 estudantes: Eduardo d’Abreu, Sérgio de Castro, João Arroyo … ou seja, malta que fez parte da comissão organizadora das comemorações do tri-centenário da morte de Camões, em Coimbra (Maio de 1881).
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